quinta-feira, 7 de abril de 2011

#53 - Beluzzo e a imprevisibilidade do futebol

Ao ser eleito presidente do Palmeiras, no dia 27 de janeiro de 2009, Luiz Gonzaga Beluzzo tinha grande prestígio dentro do clube e era apoiado por muita gente, inclusive da imprensa. Candidato da situação, ele derrotou o opositor Roberto Frizzo em uma eleição acirrada e assumiu o posto de Affonso Della Monica. Renomado economista, Beluzzo era a esperança de bons tempos no clube do Palestra Itália.
Mas, nesse biênio em que comandou o Palmeiras, o economista Beluzzo se deparou com uma realidade muito diferente daquela que aprendeu nos tempos de faculdade: futebol, diferentemente de economia, não é uma “ciência” nada exata. O ex-mandatário aparentemente fez tudo correto, investiu na Arena Palestra, trouxe Valdivia, Kléber e até Felipão. Não adiantou.
Dois mil e nove foi ano mais emblemático. Era o primeiro de Beluzzo à frente do clube e para surpresa de muitos o time brigava pelo título do Campeonato Brasileiro. À frente da equipe estava Vanderlei Luxemburgo, um dos melhores técnicos do país.
Nas rodadas iniciais, porém, após a conturbada saída de Keirisson, Luxa não agüentou e foi mandado embora. Após uma pequena novela, Muricy Ramalho foi contratado e o time rumou aos primeiros lugares. Ótimo investimento da diretoria que contratava o atual tri-campeão do torneio.
E tinha tudo para dar certo. Tinha. Mesmo com um experiente e talentoso técnico no banco e a permanência dos principais jogadores à época – Diego Souza, Cleiton Xavier e Pierre – o Palmeiras entregou o título para o Flamengo e, na última rodada, acabou fora dos classificados para a Libertadores do ano seguinte. Desastre total para o clube cuja administração havia investido um caminhão de dinheiro naquele ano.
Veio então 2010. Um ano ruim para o clube, ficando fora da segunda fase do estadual,  de uma campanha ruim na Copa do Brasil, desastrosa na Sul Americana e de um time irregular no Campeonato Brasileiro.  Sem dinheiro e sem apoio da Traffic (parceira do clube que investira tudo no ano anterior), Beluzzo voltou-se para os “Eternos Palestrinos”, um grupo de bem-sucedidos torcedores que ajudaram nas contratações de Kléber e Valdívia. Mas foi pouco. Os dois mais recentes ídolos alviverdes não contaram com parceiros de qualidade e o Palmeiras foi um time fraco. Financeiramente o clube penou para manter os salários em dia, tendo, inclusive, que conviver com atritos entre diretoria e jogadores.
No último mês de janeiro, Beluzzo deixou o cargo desprestigiado, criticado e ainda viu um candidato da oposição assumir seu antigo posto – Arnaldo Tirone. Em entrevista, disse que “se pudesse voltar no tempo, jamais aceitaria” o cargo de presidente. Palavras de uma pessoa magoada.
Para mim, Beluzzo pecou em não ser mais rígido com a Traffic. Deveria – e assim se espera do novo mandatário – exigir, com o perdão da redundância, mais parceria da parceira. Faltou voz ativa nos momentos de atrito entre membros da diretoria e jogadores. Esse é um dos papéis essenciais de um presidente, apaziguar quando necessário. E faltou sorte também, porque não. Afinal, quem advinharia que Vágner Love viria da Europa sem jogar absolutamente nada? Que um título 99% provável escaparia nas rodadas finais devido a uma categórica pipocada dos principais jogadores?
Luiz Gonzaga Beluzzo sentiu na pela o quanto o futebol – diferente das ciências exatas das quais é perito – é imprevisível.

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